A ayahuasca está sendo estudada como tratamento para transtornos
alimentares
Uma das pacientes afirmou que foi “como se o
cérebro tivesse sido reprogramado”.
PorJesse HicksTraduzido porAmanda Guizzo Zampieri
Set 29
2017, 7:00am
Um estudo pequeno realizado
por cientistas no Canadá apresentou evidências preliminares de que a ayahuasca,
a bebida psicodélica usada em rituais místicos por tribos indígenas na
Amazônia, pode auxiliar no tratamento de transtornos alimentares.
A ayahuasca é uma bebida
fermentada à base de plantas que contêm a dimetiltriptamina (DMT), uma das
drogas psicodélicas mais poderosas e utilizada há séculos como ritual sagrado.
Os usuários muitas vezes relatam visões místicas e
transcendentes que os levam a insights sobre si mesmos.
A viagem de ayahuasca pode
alterar positivamente o comportamento, e estudos em estágios iniciais sugerem
que a bebida pode ajudar no tratamento de ansiedade, vícios e depressão.
A autora principal do estudo,
Dra. Adèle Lafrance, professora associada da Universidade Laurentian, estuda os
transtornos alimentares (TA). Os TAs são alguns dos transtornos mentais mais
desafiadores, com poucas evidências a fim de corroborar qualquer abordagem em
particular, e com altos índices de abandono e recaídas entre os pacientes.
"Eu trabalhava como
psicóloga de transtornos alimentares, quando eu e alguns colegas testemunhamos
em primeira mão as taxas de desistência, recaídas e até mesmo óbitos. Então
assisti a um documentário sobre a ayahuasca no contexto de vícios", ela contou ao PsyPost. Em busca
de um tratamento novo, ela se perguntou se a ayahuasca poderia ajudar nos TAs.
Para descobrir, ela entrevistou
16 pessoas (14 mulheres e dois homens), na América do Norte, diagnosticados com
TAs e que tivessem participado de pelo menos uma cerimônia com ayahuasca. Eles
têm idade média de 33,5 anos; dez já foram diagnosticados com anorexia nervosa
(imagem corporal distorcida e obsessão com o peso e fazer dietas) e seis com
bulimia nervosa ( binge eating forçando vômito logo em seguida). A
maioria já havia tentado tratamentos específicos para os transtornos e estavam
em estágios diferentes da doença e/ou da recuperação.
As entrevistas revelaram que 11
das 16 pessoas perceberam que sua experiência com a ayahuasca reduziu os
sintomas do TA. Uma das participantes disse se sentir "como se houvesse
uma distância maior entre meu comportamento, assim você conhece os padrões de
pensamento e os gatilhos" do TA. "Como se meu cérebro tivesse sido
reprogramado", ela afirmou. "É a única forma que sei descrever – eu
não sei exatamente como funciona."
Algumas pessoas relataram uma
mudança em suas atitudes em relação aos seus corpos durante as viagens de
ayahuasca. "Eu realmente senti meu corpo como um presente", disse um
participante. "E ele estava, eu senti que ele estava desnutrido. E
consegui perceber isso, percebi que não estava dando o devido valor a esse
presente."
Metade dos entrevistados reportou
uma redução na ansiedade, depressão, automutilação, desejos de suicídio e uso
abusivo de substâncias. Uma participante disse que não sente mais necessidade
de antidepressivos e que viu sua ansiedade desaparecer – ela atribuiu essa
melhora à ayahuasca. "Ela reprograma seu cérebro", contou.
Ainda é cedo para se tirar
conclusões de um conjunto de entrevistas relativamente pequeno. Contudo, isso
sugere um caminho à frente. "Essa pesquisa está em seus primórdios",
Lafrance contou à PsyPot. "O
uso da ayahuasca na América do Norte não é legalizado. E também pode ser
desaconselhado para certas pessoas com base em sua condição ou histórico
médico. Por isso, nosso estudo aponta a necessidade de mais pesquisas,
incluindo algumas restrições a fim de poder conduzir."
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