20 outubro, 2017

E mentais!



A ayahuasca está sendo estudada como tratamento para transtornos alimentares
Uma das pacientes afirmou que foi “como se o cérebro tivesse sido reprogramado”.
Set 29 2017, 7:00am









Um estudo pequeno realizado por cientistas no Canadá apresentou evidências preliminares de que a ayahuasca, a bebida psicodélica usada em rituais místicos por tribos indígenas na Amazônia, pode auxiliar no tratamento de transtornos alimentares.



A ayahuasca é uma bebida fermentada à base de plantas que contêm a dimetiltriptamina (DMT), uma das drogas psicodélicas mais poderosas e utilizada há séculos como ritual sagrado. Os usuários muitas vezes relatam visões místicas e transcendentes que os levam a insights sobre si mesmos.

A viagem de ayahuasca pode alterar positivamente o comportamento, e estudos em estágios iniciais sugerem que a bebida pode ajudar no tratamento de ansiedade, vícios e depressão

A autora principal do estudo, Dra. Adèle Lafrance, professora associada da Universidade Laurentian, estuda os transtornos alimentares (TA). Os TAs são alguns dos transtornos mentais mais desafiadores, com poucas evidências a fim de corroborar qualquer abordagem em particular, e com altos índices de abandono e recaídas entre os pacientes. 

"Eu trabalhava como psicóloga de transtornos alimentares, quando eu e alguns colegas testemunhamos em primeira mão as taxas de desistência, recaídas e até mesmo óbitos. Então assisti a um documentário sobre a ayahuasca no contexto de vícios", ela contou ao PsyPost. Em busca de um tratamento novo, ela se perguntou se a ayahuasca poderia ajudar nos TAs.

Para descobrir, ela entrevistou 16 pessoas (14 mulheres e dois homens), na América do Norte, diagnosticados com TAs e que tivessem participado de pelo menos uma cerimônia com ayahuasca. Eles têm idade média de 33,5 anos; dez já foram diagnosticados com anorexia nervosa (imagem corporal distorcida e obsessão com o peso e fazer dietas) e seis com bulimia nervosa ( binge eating forçando vômito logo em seguida). A maioria já havia tentado tratamentos específicos para os transtornos e estavam em estágios diferentes da doença e/ou da recuperação.

As entrevistas revelaram que 11 das 16 pessoas perceberam que sua experiência com a ayahuasca reduziu os sintomas do TA. Uma das participantes disse se sentir "como se houvesse uma distância maior entre meu comportamento, assim você conhece os padrões de pensamento e os gatilhos" do TA. "Como se meu cérebro tivesse sido reprogramado", ela afirmou. "É a única forma que sei descrever – eu não sei exatamente como funciona."

Algumas pessoas relataram uma mudança em suas atitudes em relação aos seus corpos durante as viagens de ayahuasca. "Eu realmente senti meu corpo como um presente", disse um participante. "E ele estava, eu senti que ele estava desnutrido. E consegui perceber isso, percebi que não estava dando o devido valor a esse presente."

Metade dos entrevistados reportou uma redução na ansiedade, depressão, automutilação, desejos de suicídio e uso abusivo de substâncias. Uma participante disse que não sente mais necessidade de antidepressivos e que viu sua ansiedade desaparecer – ela atribuiu essa melhora à ayahuasca. "Ela reprograma seu cérebro", contou.

Ainda é cedo para se tirar conclusões de um conjunto de entrevistas relativamente pequeno. Contudo, isso sugere um caminho à frente. "Essa pesquisa está em seus primórdios", Lafrance contou à PsyPot. "O uso da ayahuasca na América do Norte não é legalizado. E também pode ser desaconselhado para certas pessoas com base em sua condição ou histórico médico. Por isso, nosso estudo aponta a necessidade de mais pesquisas, incluindo algumas restrições a fim de poder conduzir."