Grito dos
Excluídos pede direitos e cidadania em várias capitais do Brasil
- 07/09/2017 16h33
- Brasília
Da
Agência Brasil*
Participantes
da 23ª edição do Grito dos Excluídos saíram em marcha pela Esplanada dos
Ministérios após o desfile cívico-militar de 7 de SetembroValter
Campanato/Agência Brasil
Em várias cidades de todas as
regiões do Brasil, a 23ª edição do Grito dos Excluídos reuniu milhares de
pessoas no feriado de 7 de Setembro. O mote deste ano da tradicional
mobilização é “Por direito e cidadania, a luta é todo dia”. Entre as
reivindicações, estão a preservação e a ampliação de direitos sociais, críticas
às reformas propostas pelo governo e a reversão do decreto que extingue uma
reserva mineral na Amazônia.
Em Brasília, a concentração
começou às 9h. De um lado da Esplanada dos Ministérios, a cúpula do governo
federal assistia, ladeada por milhares de pessoas, ao desfile cívico-militar.
Do outro, próximo ao Museu da República, movimentos sociais e ativistas
protestavam em defesa da democracia e contra as reformas em curso, como a
trabalhista e a previdenciária. O número de participantes não foi divulgado.
Ao longo de toda a manhã,
cantadores, rappers, batuqueiros e outros integrantes da articulação
“Artistas pela Democracia” dividiram o palco com organizações da sociedade
civil que, uma a uma, apresentaram suas reivindicações. Crianças também
participaram do ato, pintando e erguendo cartazes em defesa da Amazônia, da
reforma agrária, da demarcação de terras indígenas e de direitos sociais, como
educação.
Por volta das 11h30, o grupo saiu
em caminhada em direção ao Congresso Nacional, pedindo a saída do presidente da
República Michel Temer. “O Grito dos Excluídos sempre faz a defesa da vida.
Neste ano, acrescentamos a questão da defesa da democracia e também a luta por
direitos, por conta da conjuntura que estamos vivendo. Por isso, várias pessoas
entoaram a palavra de ordem: 'nenhum direito a menos'”, disse José Boaventura
Teixeira, educador popular e integrante da Cáritas Arquidiocesana de Brasília.
Um dos organizadores do ato,
Teixeira explicou que o Grito dos Excluídos nasceu da Confederação Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e, ao longo de mais de duas décadas, sai às ruas no 7
de setembro para denunciar a injustiça social. “É uma prática que, de certa
forma, sempre foi feita com o envolvimento de grupos populares e fortemente da
Igreja, na perspetiva da opção pelos pobres e pelos excluídos, que é uma
mensagem antiga e que está sendo fortalecida pelo papa Francisco”, relembrou.
Apesar de nem a polícia nem a
organização do movimento terem divulgado o número de participantes, Teixeira
diz que número de participantes diminuiu em relação aos 10 mil manifestantes do
ano passado. Para ele, a situação reflete o desânimo provocado pela crise
política e pelo comportamento da mídia. “A mídia não tem incentivado, de forma
alguma, a participação política, a organização do povo para repensar [a
sociedade]. Ao contrário, a mídia tem levado a sociedade a ficar cada vez mais
descrente com a Política, em letra maiúscula”, criticou. Ele acrescentou que
Executivo, Legislativo e Judiciário também têm efetivado ações importantes sem
a participação popular.
No Rio de
Janeiro, protesto saiu pela Avenida Presidente VargasTânia Rego/Agência Brasil
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o 23º Grito
dos Excluídos saiu pouco depois de 12h da Rua Uruguaiana e seguiu pela Avenida
Presidente Vargas até a Avenida Rio Branco, logo após o fim do desfile
cívico-militar de 7 de setembro. A passeata ocupou cerca de um quarteirão e
chegou à Praça Mauá às 12h30, sem nenhuma violência ou confronto.
Durante o trajeto, muitas
palavras de ordem em cartazes, faixas e no carro de som em defesa dos direitos
da população e dos trabalhadores e contra as reformas propostas pelo governo. O
fechamento do ato está previsto para as 16h, na Cinelândia.
Participaram representantes de
diversos movimentos sociais e centrais sindicais, como Frente Internacionalista
dos Sem Teto (Fist), Central de Movimentos Populares, Quilombo da Gamboa, SOS
Jaconé Porto Não, Movimento dos Atingidos por Barragem, de mulheres, movimentos
LGBT, Movimento Contra a Violência na Maré, Movimento Antimanicomial. Também
estiveram presentes trabalhadores da educação, da Fiocruz e do setor de óleo e
gás, além de representantes dos Fóruns de Saúde do Rio de Janeiro e em Defesa
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O advogado da Fist, André de
Paula, explicou que a manifestação ocorre em todo o país e representa o grito
da maioria. “É o grito dos excluídos, que é a maioria, denunciando que o
Brasil, na verdade, não é independente, mas sim subordinado ao capital
internacional. A Fist tem como bandeira denunciar as remoções e despejos. Temos
hoje 5 mil prédios vazios enquanto tem pessoas morando nas ruas”, disse.
O diretor de comunicação do
Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz, Gutemberg Brito, disse que a entidade
participa do ato para defender o Sistema Único de Saúde (SUS). “A Fiocruz é de
estado, trabalhamos para a população brasileira e a nossa defesa é a defesa do
SUS público e de qualidade, contra os retrocessos que temos visto nos últimos
tempos no Brasil. Eles tiram os nossos direitos e nós tiramos o sossego deles”.
Diretora do Sindipetro-RJ, Ana
Patrícia Laier explica que o sindicato é contra a venda de ativos da Petrobras.
“Estamos tentando fazer uma reação a essa privatização fatiada da Petrobrás,
que vem vendendo os nossos ativos, malha de gás, campos gigantes do pré-sal,
como Carcará, agora vai atacar o excedente da cessão onerosa”, declarou.
Na
capital mineira, manifestantes colheram assinaturas para projeto de iniciativa
popular que pede revogação da reforma trabalhistaLéo Rodrigues/Agência Brasil
Belo Horizonte
Na capital mineira, movimentos
sociais reuniram-se na Praça Rio Branco, em frente à rodoviária, de onde
seguiram pelas ruas do centro da capital mineira. A principal bandeira desta
edição foi a revogação da reforma trabalhista.
“Foi lançada uma campanha em todo
o país para colher assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular que
prevê a anulação dos efeitos da reforma trabalhista. Nosso objetivo é construir
uma resistência pra impedirmos que as mudanças entrem em vigor em 11 de
novembro, conforme a data prevista na lei”, explicou Beatriz Cerqueira,
presidente da Central Única dos Trabalhadores em Minas Gerais (CUT-MG).
Os manifestantes também
protestaram com faixas e gritos de ordem contra o Poder Judiciário, a quem
acusam de atuar de forma seletiva. De acordo com Beatriz Cerqueira, alguns
partidos estão sendo criminalizados em detrimento de outros. Segundo ela, há
pessoas sendo presas apenas com base nas delações e outros, mesmo com provas
concretas de corrupção, permanecem soltos. A presidente da CUT-MG também
criticou o instituto da delação premiada.
“Honestamente, acho que é um novo
mecanismo de tortura. No regime militar, as pessoas eram colocadas no
pau-de-arara e forçadas a entregar seus companheiros. Agora, eles prendem as
pessoas sem provas até minar a resistência e elas falarem o que os procuradores
querem ouvir. E as pessoas acabam falando o que pedem para poder reduzir a pena
e restabelecer o mínimo de seu direito à liberdade”, reclamou Beatriz.
Também hoje, cerca de 70 famílias
sem-teto ocuparam um imóvel na Pedreira Prado Lopes, comunidade na região
noroeste de Belo Horizonte. Movimentos sociais ligados à moradia dão suporte à
Ocupação Pátria Livre, como foi apelidada. Eles alegam que o local está
abandonado há mais de 10 anos e não cumpre função social, conforme estabelecido
pela Constituição Federal.
De acordo com os sem-teto, a
Polícia Militar ameaçou dar início à reintegração de posse, mas recuou após o
governo de Minas Gerais concordar em receber as famílias para uma reunião na
terça-feira (12). A Agência Brasil tentou fazer contato com o governo
mineiro para confirmar o encontro, mas não obteve sucesso. A PM informou ter
sido acionada pelo proprietário do imóvel e foi até o local para atender a
ocorrência, mas negou que tivesse a intenção de fazer a reintegração de posse.
Manaus
Em Manaus, o Grito dos Excluídos
começou às 15h30 e deve terminar no início da noite. A organização é da
Arquidiocese de Manaus, juntamente com a Cáritas e Pastorais Sociais. Depois de
se concentrarem na Avenida Itaúba, Zona Leste da cidade, os participantes
fizeram uma caminhada até a área conhecida como Bola do Produtor. O tema deste
ano é "Vida em Primeiro Lugar" para denunciar a violação de direitos
e reivindicar políticas públicas.
Histórico
O Grito dos Excluídos surgiu
dentro da Igreja Católica, em 1995, com o objetivo de aprofundar o tema da
Campanha da Fraternidade do mesmo ano. Em 1999, o Grito rompeu fronteiras e
estendeu-se para as Américas. No Brasil, os atos ocorrem em diferentes cidades,
no dia da Independência, e reúnem pessoas, grupos, entidades, igrejas e
movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos.
*
Reportagem de Helena Martins (Brasília), Akemi Nitahara (Rio de Janeiro), Léo
Rodrigues (Belo Horizonte) e Bianca Paiva (Manaus)
*Matéria
atualizada às 18h31 para incluir a manifestação em Manaus
Edição: Wellton
Máximo
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