Mulheres trocam experiências e buscam espaço em mercado de tecnologia
Publicado em 07/07/2018 - 14:50
Por Carolina Gonçalves e Mariana Tokarnia -
Repórteres da Agência Brasil Brasília
Em meio a dezenas de meninos, Ana
Paula Rocha, de 15 anos, e Lívia Damião Vieira, de 14 anos, chamavam atenção de
quem passava para acompanhar uma das primeiras disputas de robótica do segundo
dia da Olimpíada do Conhecimento que ocorre em Brasília
até amanhã (8). Não apenas por serem as únicas mulheres, mas pela desenvoltura
no manejo dos robôs criados para facilitar a dinâmica nos portos, como
atracagem de navios e estacionamento de contêineres.
Lívia Damião Vieira e Ana Paula Rocha integram uma
das equipes que disputam a Olimpíada do Conhecimento - Carolina
Gonçalves/Agência Brasil
A cena ainda é tida como reflexo
de um espectro da realidade do mercado de trabalho quando se trata de áreas
voltadas para tecnologia, engenharia, ciência e matemática, ainda apontadas
como atividades masculinas. Mas, caminhar pelos mais de 25 mil metros quadrados
do local onde ocorre o evento pode mudar essa percepção.
“Sou mais da área de exatas e
sempre gostei de robôs. Meu primeiro contato foi na escola, no 4º ano [do
ensino fundamental], quando integrei uma equipe que tinha que montar um robô”,
disse a estudante Ana Paula, de Vilhena, no estado de Rondônia. De uma turma de
18 componentes, em que seis são mulheres, ela não hesita em declarar: “Somos
nós que comandamos [os projetos]. Tem muita oportunidade nessa área. A chance
existe, só depende da gente aproveitar”, afirmou.
O que ocorre é que esta visão nem
sempre é compartilhada por outras alunas. Lívia Damião Vieira, sua parceira no
projeto apresentado hoje, admite que deve optar por uma profissão da área de
humanas. “Falta coragem. É muito difícil você ser a única. São poucas as
mulheres que vemos neste meio de trabalho.”
Autora de um estudo que avaliou
exatamente a questão da presença feminina nesses campos de atuação, a
especialista da Seção de Educação para a Inclusão e Igualdade de Gênero da
Unesco Theophania Chavatzia explicou que ainda há uma série de fatores que
explica a atual situação desse mercado. Além de elementos culturais presentes
tanto nas escolas quanto nas famílias – que insistem em apontar essas áreas
como dominantes dos meninos –, a falta de identidade também tem peso relevante.
“Elas não veem pessoas que se
destacam nessas carreiras que sejam mulheres, isso tanto na mídia quanto na
escola. As meninas tendem a acreditar que elas não são tão boas quanto os
meninos. São estereótipos. Tendem a acreditar que são melhores em humanidades,
por exemplo, e que não são boas em ciências ou que não são tão boas quanto os
homens. Tendem a assimilar esse estereótipo e a ficar longe”, explicou, ao
destacar isso é reflexo da socialização.
Gerente executivo de Educação
Profissional do Senai Nacional, Felipe Morgado acredita que essa realidade já
está mudando. Segundo ele, o aumento da participação das mulheres nesse mercado
pode ser confirmada em números. Morgado afirmou que, entre as matrículas de
cursos profissionalizantes para a indústria, metade dos inscritos é formada por
mulheres. “É uma prioridade e é necessária para a quarta revolução industrial a
participação das mulheres. Isso não é só o Senai que está dizendo, são
organismos internacionais como a Unesco. Essa participação vem aumentando. Na
impressora 3D de cimento [um dos projetos expostos no evento], que por exemplo,
foi desenvolvida para a construção civil, tem mulheres na equipe. Muitas vezes,
as mulheres têm visão mais ampla e conseguem contribuir mais nessas inovações”,
disse.
Experiência
Primeira brasileira a trazer uma
medalha para as mulheres no torneio internacional de educação profissional, o
WorldSkills, na edição japonesa, em 2007, a catarinense Carla Mangoni De Bona,
tenta criar condições para que as tecnologias tenham uma presença maior das
mulheres.
Formada em design e consultora em
experiência do usuário digital e com mais de 15 anos no mercado, Carla
identificou o predomínio de mão de obra masculina nesses segmentos. Na
expectativa de mudar esse cenário, fechou uma parceria com outras mulheres,
criando, há dois anos, um projeto que foi batizado de Reprograma. A proposta é
oferecer um curso com duração de 320 horas para capacitar mulheres em
programação e repassar conhecimentos básicos de empreendedorismo. O programa
também inclui um apoio de profissionais de referência na indústria.
“Nosso sonho é fazer com que as
meninas passem pelo curso e entrem na área de tecnologia como desenvolvedoras
ou que comecem um negócio, comecem a empreender, a mudar esse cenário”,
explicou.
Segundo Carla, a primeira turma
formada há dois anos tinha 18 mulheres. Desse total, 20% conseguiram uma
colocação no mercado após o curso. Na segunda turma, com 25 mulheres, 80%
conseguiram emprego. “O projeto as incentivou a buscar emprego ou encontrar
vagas via networking a partir do curso, e os empregos foram na área de atuação
das inscritas.”
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Edição: Talita
Cavalcante